Em 1827, um grupo de homens negros reuniu-se na discreta, porém intrigantemente nomeada Igreja dos Quinze Mistérios, no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, para formar uma sociedade aberta exclusivamente a homens negros. Os membros, em conjunto, ajudariam aqueles que enfrentavam tempos ainda mais difíceis do que o habitual; pagariam despesas funerárias e trabalhariam para comprar a alforria de outros escravizados.
O motivo para se reunirem em uma igreja era que africanos e afro-brasileiros eram legalmente proibidos de formar sociedades civis que não fossem de caráter religioso — católico.
Em 1848, a Sociedade transferiu-se para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Pelourinho, saindo no mesmo ano para sua própria sede, na Rua do Bispo (que dá acesso à Praça da Sé).
Em 1887, adquiriram o edifício no Largo do Cruzeiro, onde permanecem até hoje.
Os recursos da Sociedade eram guardados em um cofre que só podia ser aberto girando simultaneamente três chaves: uma em posse do presidente da Sociedade e as outras duas com outros membros. O Cofre das Três Chaves ainda existe e pode ser visto pelos visitantes na sede da Sociedade, localizado no topo da escada que dá acesso ao segundo andar do edifício (primeiro andar no inglês britânico). As três chaves estão penduradas nas proximidades, juntamente com as chaves modernas atualmente utilizadas pela Sociedade.
A um metro à esquerda do cofre está o baú de madeira especialmente construído para guardar documentos, que também era aberto pelo sistema das três chaves.
A escravidão foi abolida no Brasil em 13 de maio de 1888, mas não as condições que instigaram a criação da Sociedade. O trabalho beneficente continuou e continua até hoje, embora a Sociedade tenha mudado com os tempos: a presidente da Sociedade é uma mulher, Lígia Margarida de Jesus.
A Sociedade Protetora dos Desvalidos (o português moderno retirou o “c” de Protetora) está localizada no Largo do Cruzeiro do São Francisco, nº 17. Está aberta para visitas durante o horário de funcionamento. Não há cobrança de entrada, mas doações à Sociedade são bem-vindas. Barreto provavelmente será o simpático senhor mais velho que conduzirá o tour (somente em português; no entanto, é possível apreciar o lugar sem o idioma).
ascom.spd@gmail.com
+55 71 3322-6913
P.S.: A Sociedade Protetora dos Desvalidos foi o tema do Bloco Alvorada — uma “escola” de samba de Salvador, por assim dizer — durante o Carnaval de 2018.