Pandeirista no Telhado
A professora e pesquisadora (nascida na Polônia, 1922; naturalizada brasileira) Anita Novinsky conta esta história: “No colégio dos jesuítas (hoje a Faculdade de Medicina no Terreiro de Jesus), um professor perguntou a um menino qual era o seu nome. O menino respondeu: ‘Qual? Meu nome de dentro ou meu nome de fora?'” A Estrela de Davi aparece constantemente na Bahia e no Nordeste brasileiro… O Brasil foi um refúgio para os chamados Cristãos-Novos de Portugal — judeus convertidos à força — e aqui no Brasil muitos deles se tornaram judeus-cripto, praticando secretamente sua religião sob a ameaça de morte pela Inquisição Católica. Uma estrutura de nomes complicada dificultava o trabalho dos inquisidores em identificar judeus praticantes: as vítimas sob tortura podiam dizer a verdade sem incriminar amigos, familiares e membros da comunidade.

Nos perguntamos e hipotetizamos que a música do Nordeste do Brasil, a música do interior, as toadas e diversos estilos sob o termo guarda-chuva forró — muito dela em tonalidades menores — foi fortemente influenciada pela música dos judeus que fugiram para o Brasil de Portugal. Além disso — e esta é uma forma de além disso que ressoa com o brilho especulativo e conjectural da verdade! — hipotetizamos que foram esses mesmos judeus sefarditas que introduziram no Brasil o que se tornaria o principal símbolo da música nacional do país: o pandeiro.
O pandeiro é de origem árabe (os jingles, platinelas ou chuá em português brasileiro, são a pista). Este instrumento foi adotado pelos judeus de Portugal para sua própria música sefardita… E então veio a segunda diáspora judaica. Imagine isso! A música do Nordeste pobre e culturalmente fecundo do Brasil… um híbrido afro-judeu? Ecos que antecederam o Fascinating Rhythm de George Gershwin!
A professora de dança (samba de roda) Nalvinha Machado usa um anel em forma de Estrela de Davi. E seu irmão, mestre de capoeira Nenel (eles são filha e filho do famoso Mestre Bimba), utiliza a Estrela de Davi na simbologia ligada à sua arte. Na Bélgica, pediram que removessem a Estrela da obra de arte em uma camiseta criada para seus workshops lá, o que foi feito. O pedido de remoção pode muito bem ter sido baseado em um mal-entendido razoável, mas, ainda assim, grosseiro.

Paulinho é um percussionista que chegou ao Centro Histórico de Salvador há cerca de sessenta e poucos anos, tendo nascido na roça (no interior) no norte da Bahia. Como muitos de sua classe social na época, ele nunca teve a oportunidade de aprender a ler ou escrever. Paulinho nem sabe quando nasceu.
Paulinho foi um dos sujeitos de uma análise de DNA em grupo realizada aqui em Salvador, para a qual foi fotografado (assim como todos os participantes) e recebeu um livro com os resultados (ele vendeu o livro… fui a primeira pessoa a quem ele se aproximou para vendê-lo; foi assim que eu soube disso).
Como se pode imaginar, a maior parte da ancestralidade de Paulinho está enraizada na África subsaariana. Com pequenas influências de outras partes. Mas o que se destacou, acima de tudo, com exceção da ancestralidade no continente africano, foi o fato de que — de acordo com este teste — Paulinho é 11% judeu sefardita!

“Paulinho!!! O rabino!!!” eu disse quando vi isso! Paulinho nunca tinha ouvido a palavra “rabino” antes, não sabia do que eu estava falando, e além disso, ele não tinha ideia do que é um judeu! Isso causou um pequeno mal-entendido aqui na loja de discos, quando uma mulher disse a ele, brincando (eu traduzi para ela): “Você é apenas onze por cento judeu… e eu sou TODA judaica!” Paulinho fez careta e ela supôs que fosse porque ele achava que a sua judaicidade era de alguma forma algo que merecia a careta antissemita. Mas foi exatamente o oposto. Ele também estava brincando. Ele fez careta porque ela era algo mais do que ele era, e ela ganhou!
A imagem no topo é de uma das pinturas de violinista de Marc Chagall; essas foram a inspiração para o musical e, depois, para o filme O Violinista no Telhado.

Muito mais por vir sobre este fascinante assunto!